Direção: Frank Darabont
Elenco: David Drayton (Thomas Jane), Sr. Carmody (Marcia Gay Harden), Laurie Holden (Amanda Dunfrey), Andre Braughter (Nathan Gamble).
Sinopse: Após uma terrível tempestade, uma estranha névoa encobre uma pequena cidade. Criaturas ocultas no nevoeiro atacam as pessoas que saem as ruas. Um grupo fica preso em um supermercado e não pode sair do estabelecimento temendo ser atacado. A partir de então, começa uma luta sangrenta pela sobrevivência.
Trailer:
RESENHA
A princípio o filme é como qualquer outro, sem muitas expectativas e muitas sugestões do que pode acontecer. O Nevoeiro é uma obra de Stephen king adaptada pelo diretor Frank Darabont. Frank começa seu longa mostrando seu personagem principal, David Drayton (Jane) dando a arte final a um cartaz de filme (há quem diga que este cartaz se refere a uma de suas obras antigas, O enigma de outro mundo, mas particularmente prefiro acreditar que se trata de outra obra de Stephen king, que é o primeiro livro da séria Torre Negra, O pistoleiro) o mesmo é um pintor e arte finalista de cartazes de filmes “Hollywoodianos”.
A seqüência do longa nos mostra um evento climático, a principio o armar de uma tempestade, forçando David, sua esposa e seu pequeno filho Billy (Gamble) a se abrigarem no porão, costume bem difundido nos EUA, devido ao fato de o porão ser a parte mais segura da casa contra alguns eventos climáticos. Pela manhã, David e sua família observam atônitos os danos causados pela tempestade, e receando que o evento ocorra novamente vê-se a necessidade de buscar mantimentos, sendo aqui que a história toma proporções acima do esperado.
Quase como o filme Por um fio, grande parte da história se passa em um mesmo local, sendo este um supermercado de médio porte. Frank Darabont prepara bem o espectador com relação aos personagens, trazendo um pouco de sua cultura, jeito e até personalidade, antes de um denso nevoeiro surgir ao redor da cidade e do supermercado fazendo com que a trama se desenrole.
Enclausurados e sem ter nem idéia do que os afronta, começa o clima de tensão, com isso também os principais estereótipos da nossa atual sociedade. Como a beata, o bonzinho, o arrogante, o teimoso, o medroso e, como não podia faltar o herói. Frank Darabont consegue trazer para o espectador a mesma sensação que os personagens enfrentam, sendo esta a sensação claustrofóbica, que em muitas cenas do longa nos tiram o fôlego e nos aprisionam em seus medos e ansiedades.
No decorrer do filme, os personagens tomam conhecimento da ameaça que os afoitam, mas, como já era de se esperar são incapazes de reagir contra a ameaça. Presos em um supermercado fica difícil saber o que é a maior ameaça, se são os estranhos seres ou os próprios humanos, que ao se encontrarem em um local sem lei mostram suas verdadeiras faces, por vezes se mostrando até mesmo mais perigosos do que os próprios seres desconhecidos. Frank retrata em seu filme de forma sutil, um grande dilema, o que seriam da raça humana, sem leis? O melhor diálogo que descreve esta afirmação acima é o seguinte:
"As pessoas são boas, decentes. Meu Deus, somos uma sociedade civilizada", diz a mocinha.
"Claro. Contanto que as máquinas funcionem e o 190 atenda. Tire isso, deixe todo mundo no escuro e assustado e as regras se vão. As pessoas vão recorrer a quem quer que ofereça uma solução. Somos fundamentalmente insanos como espécie. Coloque gente suficiente num quarto e é só uma questão de tempo até cada metade começar a imaginar maneiras de matar a outra", retruca o senhor.
Deixando bem claro a índole geral dos humanos, a seqüência desse diálogo deixa bem claro que os humanos são tão fracos que criaram a política e a religião para sentir algum conforto e inibir alguns instintos que a sociedade julga inapropriado e que de fato é.
Mas como todo filme, O Nevoeiro também apresenta um grande aspecto negativo, vindo este de Sam Witwer, interpretando o papel de um soldado, demasiadamente exagerado em diversos aspectos, desde interpretação até aparência em si, surgindo com as sobrancelhas feitas cuidadosamente além de um toque sutil de lápis na parte inferior dos sílios, algo extremamente estranho para um militar, transformando o personagem em um drag Queen, altamente produzido.
Em contrapartida a este aspecto, surge a Sr. Carmody (Marcia Gay Harden) uma evangélica extremamente fundamentalista, se tornando o ser mais ameaçador do filme O Nevoeiro. Seguindo o modelo estereotipado e cacaricaturado, a Sr. Carmody, influencia o comportamento alheio usando como base sua maior arma, o medo. Mostrando que independente de sua crença os seres humanos prezam suas vidas acima de qualquer outra coisa, podendo até mesmo alterar sua índole para modificar alguns preceitos mediante o pavor da morte, faltam-me palavras para descrever a incrível e nada sutil desempenho de Marcia Gay Harden, levando a este mero espectador a aplaudir de pé.
O ponto principal da história se encontra no final, onde um grande turbilhão de emoções atinge o espectador causando diferentes reações, fazendo os mesmos amarem o filme ou ter uma imensa repulsa, tudo isso em seus momentos finais, sendo em minha opinião um dos melhores desfechos que já presenciei, mas deixará um grande gosto amargo que perdurará enquanto o espectador não deixar que isto mascare, de forma injusta, esta incrível adaptação do livro de Stephen King.
Jake Rodrigues